Um dos principais símbolos da devoção católica dos campomaiorenses, a imagem do padroeiro, Santo Antônio Aparecido, ainda é cercada de muitos mistérios. A escultura, há mais de 300 anos, é venerada na Terra dos Carnaubais, e, na ausência quase completa de fontes sobre a sua origem, a lenda do aparecimento sobrenatural da imagem conseguiu se firmar como algo irrefutável.

O professor e historiador campomaiorense Dário Leno explica que a principal referência de fonte documental sobre a origem da imagem seria o Livro de Tombo da Paróquia de Santo Antônio:
“O livro não traz nenhuma referência sobre a imagem, portanto o que se tem a respeito são especulações. A hipótese mais aceita é a de que essa imagem foi trazida de Portugal para Campo Maior pelo fidalgo Bernardo de Carvalho e Aguiar”, explica.

Já o professor Marcus Paixão, em artigo publicado sobre a história de Campo Maior, diz que importantes documentos da Igreja foram destruídos durante a Batalha do Jenipapo.
“Os primeiros documentos da igreja de Santo Antônio, constando de seu livro de Tombo, suas atas, vários registros da época, foram perdidos no dia da Batalha do Jenipapo, em 13 de março de 1823, quando foi ateado fogo na documentação da igreja. O levante que incinerou o acervo documental da igreja da Freguesia de Santo Antônio fez desaparecer importantíssimos documentos”, diz o professor e historiador Marcus Paixão.

Bernardo de Carvalho Aguiar instalou a fazenda Bitorocara em 1697, localizada na confluência dos rios Longá e Surubim. Devoto de Santo Antônio, Bernardo inicia também a construção de uma capela dedicada ao santo português. Alguns historiadores defendem que a primeira missa celebrada em Campo Maior aconteceu no ano de 1712, com a fixação da imagem de Santo Antônio, mas não se pode afirmar que aquela escultura seja a mesma da atualidade.
Outras hipóteses
Outra hipótese aceita sobre a origem da imagem é a de que ela foi trazida para Campo Maior por frades que se deslocavam do Maranhão para o Ceará fazendo missões pelo interior do Piauí. Há também quem acredite que a imagem foi trazida por devotos portugueses, provavelmente, quando da fundação da cidade, em 1762. Pode também ter sido doada para a paróquia por alguma família tradicional, devota de Santo Antônio, como era de costume, sobretudo diante de alguma graça alcançada ou promessa.

Portanto, diante da falta de informações oficiais, a lenda do aparecimento da imagem para vaqueiros ganhou notoriedade e conseguiu influenciar a história e a cultura.
“A lenda da imagem aparecida no tronco da juremeira é algo místico que tem seu lugar nessa época. A História não exclui a possibilidade, porque tem um significado religioso, portanto deve ser levada em consideração”, explica o professor Dário Leno.

Última restauração
Em abril de 2023, a imagem de Santo Antônio Aparecido ou por uma restauração. O trabalho foi realizado pelo padre José Nilto Pereira, frei capuchinho da Província de São Francisco das Chagas do Ceará e Piauí.
“Acolhi com muita alegria e devoção a imagem de Santo Antônio. Sou um devoto deste santo que me socorre nos momentos de aflição. Vi como a confirmação de um milagre ele ter chegado até minhas mãos para esse trabalho de restauração. A imagem chegou até mim muito desgastada, completamente descaracterizada do que já foi, mas aí consegui entregar um resultado que se aproxima daquilo que os campomaiorenses conhecem, próximo do original”, destacou o frei José Nilto.