Queridos irmãos e irmãs,
Esta é a noite solene da Eucaristia.
O que faltava ao Cristo na sua missão redentora? Só Nosso Senhor sabia. Não tínhamos nenhum merecimento. Jesus Cristo habitou nossa terra, experimentou nossos limites. Nosso Senhor nos socorreu com milagres, com palavras, com ternura, com o silêncio e com orações.
Nosso Senhor afirmou: “Quem me vê, vê ao Pai. Eu e o Pai somos um”. O que faltava ao Cristo na sua missão redentora? Só Nosso Senhor sabia.
Por isso, Ele “sabendo que o Pai tinha colocado tudo em suas mãos e que de Deus tinha saído e para Deus voltava.” (Jo 13,3), mostrou a que ponto chega o amor…
Imagino aquela ceia pascal. Cada discípulo com pés rachados, sujos, empoeirados… imagino a vergonha deles ao ver o Cristo na condição de escravo, abaixado ao chão, e sem pressa alguma lava e enxuga aqueles pés e nada fala.
Para que servem as palavras numa hora dessas?
Pedro tem toda razão. Eu entendo o apóstolo. Pedro está certo. Ele é o Cristo, o Filho de Deus. Ele é o Bom Pastor das ovelhas. Ele é descendente do rei Davi. É a pedra angular. É o mestre. O filho de Maria Santíssima…
Pedro, eu entendo o seu posicionamento. ‘Senhor, Tu nunca me lavarás os pés!’
Queridos irmãos e irmãs: silenciemos um pouco mais, pois agora me lembrei que Jesus Cristo havia dito que nem tudo de Deus compreenderíamos no agora do nosso tempo. Lavar os pés dos discípulos era loucura, era um escândalo. “Pois aquilo que parece ser a loucura de Deus é mais sábio do que a sabedoria humana, e aquilo que parece ser a fraqueza de Deus é mais forte do que a força humana. Para envergonhar os sábios, Deus escolheu aquilo que o mundo acha que é loucura; e, para envergonhar os poderosos, ele escolheu o que o mundo acha fraco. Deus escolheu aquilo que o mundo despreza, acha humilde e diz que não tem valor” (1 Cor 1,25-30).
Esta é a primeira lição: o amor escandaliza os impiedosos, os prepotentes…
“Vós me chamais Mestre e Senhor, e dizeis bem, pois eu o sou. Portanto, se eu, o Senhor e Mestre, vos laveis os pés, também vós deveis lavar os pés uns dos outros. Dei-vos o exemplo, para que façais a mesma coisa que eu fiz” (Jo 13, 13-15).
O que faltava ao Cristo na sua missão redentora? Só Nosso Senhor sabia. Agora São Paulo nos recorda: “O que eu recebi do Senhor foi isso que eu vos transmiti: Na noite em que foi entregue, o Senhor Jesus tomou o pão e, depois de dar graças, partiu-o e disse: isto é o meu corpo que é dado por vós. Tomou também o cálice e disse: ‘Este cálice é a nova aliança, em meu sangue.” (1 Cor 11,23).
É muita emoção para uma noite só. Como nos diz o narrador em jogos da seleção brasileira: ‘Haja coração’. Os discípulos de Emaús, na cena de Lucas 24, disseram que os olhos deles se abriram quando Jesus abençoou e partiu o pão. Jesus é o Pão Vivo que desceu do céu. Ele está realmente de noite e de dia presente no altar… Isto é Eucaristia.
Como alcançar tamanha graça, como tocar neste corpo-pão, neste sangue-vida? Dentre os discípulos, Nosso Senhor Jesus Cristo escolheu alguns para serem mediadores dessa Graça. São os presbíteros que devem oferecer este sacrifício santo que não tem preço nem troco. É oferta de si. É o amor sem medida. Nosso Senhor ordena à Igreja dos apóstolos: “Fazei isto em memória de mim.” Cristo ontem, hoje e sempre.
Esta é a segunda lição: Na missa a cruz é altar, o pão é Corpo Eucarístico de Cristo e cristão que lava os pés dos irmãos possui esta dignidade dada por Deus: tomar assento nesta mesa. Nós somos a igreja dos apóstolos. “Fazei isto em memória de mim.” Cristo ontem, hoje e sempre.
Por nossos pecados, por nossa ingratidão. Nada merecíamos. O que faltava ao Cristo na sua missão redentora? Só Nosso Senhor sabia. Ele perpetuou sua presença entre nós se tornando pão ível embora sendo o pão do céu. De fato, “todas as vezes que comerdes deste pão e beberdes deste cálice, estareis proclamando a morte do Senhor, até que ele venha.” (1 Cor 11,26).
Eis o mistério da fé: anunciamos, Senhor, a vossa morte, e proclamamos a vossa ressureição. Vinde, Senhor Jesus! Eis o mistério da fé.